Chá – a delícia de ter rituais

Conta a história (ou seria a lenda?) que o uso de folhas para dar um sabor agradável à água fervida foi uma descoberta casual, de um imperador chinês, no ano III antes de Cristo. Quando descansava sob uma árvore, Shennong notou que algumas folhas caíram em um recipiente no qual esquentava água; ele então resolveu experimentar a bebida e gostou não apenas do sabor, mas também do efeito revigorante.

Na Europa, a chegada do chá acontece no século XVII, com a Companhia Holandesa das Índias Orientais. Mas, é no século XVIII que a bebida começa a se enraizar no país ocidental ao qual mais associamos o chá, a Inglaterra. O Café Garraway, de um empresário com o mesmo nome, foi o primeiro estabelecimento público a servir chá, informando, por meio de uma placa externa, todos seus efeitos positivos.

Mas, o chá como evento social está associado a duas mulheres: ainda no século XVII, Catarina de Bragança inicia a tradição de servir o chá de maneira mais refinada, com bules, xícaras, leiteiras e açucareiros. No século XIX, a Duquesa Ana de Bedford inicia a tradição de realizar uma refeição leve, que incluía Darjeeling, bolos e sanduíches como forma de esperar pelo jantar sem sentir muita fome. E eis o chá das cinco.

É no Japão, no entanto, que o ato de beber chá mais se aproxima do ritual. A tradição remonta a uma antiga prática zen budista difundida por um monge que levou o chá verde em pó, da China para o país, no século XII. Há, na verdade, dois tipos de cerimônia do chá: os encontros mais simples e os mais formais, que podem durar horas. Os japoneses gostam de deixar claro que, nas cerimônias do chá, não se trata apenas de servir e de beber, mas sim, de usar a oportunidade para reafirmar princípios como a harmonia, o respeito, a pureza e a tranquilidade, por meio da decoração, da escolha da louça e da roupa adequada.

Nessa coleção, em que celebramos os avós, suas casas e o resgate de algumas tradições, lembramos que o chá é uma bela oportunidade para sentarmos, conversarmos, usarmos aquelas louças e talheres especiais e desfrutarmos da companhia de quem amamos.

Juntando tudo – chá, comida, memórias e passado – encerramos o post lembrando de Marcel Proust e das madeleines no primeiro volume do livro “Em Busca do Tempo Perdido”: “No mesmo instante em que aquele gole, de envolta com as migalhas do bolo, tocou o meu paladar, estremeci, atento ao que se passava de extraordinário em mim. Invadira-me um prazer delicioso, isolado, sem noção da sua causa… De onde me teria vindo aquela poderosa alegria? Senti que estava ligado ao gosto do chá e do bolo, mas que o ultrapassava infinitamente e não devia ser da mesma natureza.”

Crédito da imagem: https://www.4well.com.br/tudo-sobre-chas/

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